sexta-feira, 10 de junho de 2011

Atropelamento fatal

Não é com alegria que vou revelar que não mais posso escrever o que escrevi no post anterior: "Sou abençoada. Nunca perdi ninguém de forma violenta, não conheço ninguém próximo que tenha perdido, nunca ninguém na minha família foi atropelado".

Embora não fosse próxima da pessoa que morreu por atropelamento, era família e não mais vou poder dizer que essa é uma tragédia que nunca me bateu à porta. Até é arrepiante pensar no assunto! Espero que não se aproxime e que esta causa de morte fique longe de se repetir a quem quer que seja que possa conhecer! Todos na minha família que já morreram passaram para o outro lado devido a causas naturais. E, agora, o fim da vida de alguém na Terra é ditado por um atropelamento.

Para sempre irei lembrar-me desta pessoa como alguém que me pareceu gostar muito de dançar e o fazia bem. Lembro-me de ficar, eu e outra jovem, a olhar para a técnica de dança desta pessoa e ambas dizermos que gostaríamos de saber dançar daquela maneira. Gosto de pensar em coisas positivas e lembrar as pessoas pelo lado bom.

Mas, com isto, o post anterior ganhou muito significado. Quando o escrevi, queria chamar a atenção para o que vejo acontecer todos os dias ao meu redor no que respeita à conduta rodoviária dos condutores e peões. Tudo o que escrevi, queria repetir agora, por outras palavras. Mas já está tudo escrito. Gosto de reler o que escrevo, peço que quem queira compreender o faça também, aqui e noutros locais, as opiniões e experiências de outros.

Partilhem! Divulguem!

Eu fiz isso e fiquei surpresa com os comentários que aparecem de pessoas que comentam, sempre e curiosamente de forma ANONIMA (acho que é de uma covardia imensa!), um assunto tão sério, de forma leviana. Recorrendo a palavrões, insultos, ofensas... Mas já se sabe que, na internet, há malucos para tudo!

Mas entre os doidos que não têm mais nada para fazer, existem outros tantos que lá escrevem coisas com sentido. Tocou-me especialmente os que dão os sentimentos à família. Cai sempre bem saber que alguém, algures, que não conhecemos, está a compartilhar de uma dor tão pessoal. São pessoas que também se preocupam e contribuem para trazer a DEBATE esta questão do comportamento automobilístico de que falei no post anterior. Relatam casos que viveram ou presenciaram. Existe, de facto, muito mau civismo automobilístico nas nossas estradas! E está a aumentar! Digam lá: um peão seria mortalmente e selvaticamente atropelado e desfigurado por um veículo se este circulasse na velocidade indicada por lei para o local? Não!

O meu coração vai para aqueles que lhe eram mais próximos, porque estão a sofrer horrores. Mas consola-me imaginar - porque só posso imaginar, que foi uma morte rápida demais para provocar dor. Não sei se ela a percebeu, mas julgo que sim. Existe sempre uma fracção de segundo em que a vida toda vem à memória, exactamente na fracção de segundo em que se percebe que é o fim dessa vida. Consola-me, porque já ouvi relatos de pessoas que sobreviveram a atropelamentos a afirmar não se lembrarem do impacto ou de sentirem dor. Mas vivem com as mazelas e os traumas, principalmente o de perderem alguém que não sobrevive!

E por essa razão, o meu coração vai também para o homem atrás do volante. Ele vai ter de viver, para sempre, com o facto de ter sido o responsável pela morte de alguém. No post anterior escrevi que não queria estar neste lugar. Não queria mesmo. Preferia ser a vítima, a carrasco, embora nunca queira nem estar perto de ser uma coisa ou outra! Culpado ou não pela situação, (não sei, desconheço as circunstâncias), a verdade é que agora é tarde demais. E NUNCA devia chegar-se ao ponto em que é tarde demais. Para ele, e para ela.

Ainda anteontem o sinal para peões ficou verde na passadeira que ANTECEDE uma rotunda, a qual preciso sempre de atravessar. Soube por instinto que não devia avançar até, pelo menos, passarem três carros
à minha frente. E foi o que aconteceu. Três viaturas passaram o vermelho a ALTA VELOCIDADE, e só depois de eu ver o quarto carro a abrandar é que atravessei a passadeira com o sinal verde para os peões.

É assim. Sempre. Agora digam lá: isto deve ser considerado normal porquê?

Peões e condutores: todo o cuidado é pouco e todo o cuidado serve para SALVAR VIDAS! A sua, em primeiro lugar, esteja você atrás de um carro ou à frente dele.

Agora que descanse em paz. Um dia estaremos todos desse lado. Só não se sabe quando e como, mas que seja sem sofrimento.