sábado, 23 de maio de 2009

Os dois lados da moeda - casos e casos

Hoje tinha um comentário no blogue de uma pessoa que diz ser motorista da Carris e apela que vejamos sempre os dois lados da moeda. Respondi-lhe e achei que a resposta dava também um texto para este blogue. Cá vai:
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Bem vinda, cara motorista da carris! Olhe, sou conhecida por pensar sempre no que "poderá" vir a acontecer e sou muito solidária... nada tenho contra quem trabalha. Mas deixe-me contar, desta vez num autocarro da Carris, o que vi certa vez:
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Um rapaz ia para entrar com um caozinho daqueles bem pequeninos que cabia na palma da mão. Vinha ao colo, embrulhado num casaco e isto foi na véspera de Natal. O motorista recusou deixá-lo entrar. O rapaz, muito calmo e educado, insistiu, dizendo que o animal era pequenino e comportado. O motorista não cedeu e explicou-lhe o seu ponto de vista: E se alguém que entra ou já está no autocarro for alérgico? Ele é repreendido, pode ser demitido ou tem de pagar uma multa. O rapaz, na véspera de Natal, lá ficou do lado de fora.
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Compreendo os dois lados mas sabe, prefiro que se arriscasse. Porque meses depois, ao entrar no autocarro, sentei-me num lugar e de repente vi uma coisa estranha a meus pés. Era uma cadela enorme! (com os olhos mais meigos que já vi).
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Claro está, esses olhos meigos estavam a fazer a vez dos olhos do invisual que a cadela auxiliava. Mas será que nestes casos não podem existir pessoas alérgicas a ela também? E depois, nos autocarros, temos de sentar em assentos cujo cheiro que sentimos ao redor do lugar desocupado leva-nos a recear a falta de higiene dos ocupantes anteriores. Aliás, HIGIENE e autocarro da Carris, não são duas coisas que costumam estar sempre ligadas.
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Eu preferiria que deixassem um animal daquele pequeno porte entrar. Há com cada mal cheiroso no autocarro e ninguém lhes recusa a entrada por virem a causar risco para a saúde dos restantes passageiros.
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E a título de referência aos motoristas, noutro dia vi também um a voltar a abrir a porta e adiar a partida para deixar entrar um senhor de mau aspecto a carregar um embrulho enorme e pesado envolto em saco de plástico preto. O senhor entra e, como os restantes já haviam entrado, ele as atenções estão nele. O motorista arranca e o homem fica a procurar o bilhete por entre os bolsos do casaco. Acaba por entrar com aquele embrulho enorme que acabará por ser um estorvo, sem realmente ter pago a passagem.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Mas temos saúde!

Já faz coisa de 2 semanas. Estava na camioneta, não num autocarro da carris. Uma "velhota" nos seus 65 anos senta-se no banco à minha frente. Na verdade, quem estava sentada nele era eu mas, como estava a ler o jornal e a senhora quis sentar-se ali, cedi o lugar. Minutos depois, outra velhota senta-se a seu lado. Começaram as duas logo a conversar. Uma mais carente que a outra, sem dúvida, por conversa. Na verdade estão perto do grito, de tão alto que falam. Todo o autocarro ficou a par da conversa das duas.
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Lá descobriram que tinham conhecidos em comum, visto serem ambas naturais da mesma aldeola. Após um rol de trocas de informações sobre vizinhos, conhecidos e familiares, a mais rezingona sai-se com esta:
-"Hoje em dia os jovens têm tudo e não estão satisfeitos com nada, querem sempre mais! No nosso tempo é que era difícil. Ali no campo, de manhã até ao entardecer, de costas dobradas... mas olha; TEMOS SAÚDE!"
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- "E nós (gerações posteriores) não." - pensei.
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Esta constante afirmação que os mais velhos fazem, deixa-me incomodada. Porque demonstra um grande desconhecimento dos factos da vida. Que não lhes levo a mal, mas que tem de começar a ser dita. Vozes têm de dizê-la. É muito simples: pouca coisa muda. A forma de trabalhar mudou. Não estamos mais no campo, mas em escritórios fechados, de manhã até de noite. Perdemos horas fechados nos carros (ou autocarros) e não andamos na carroça puxada pelo burro. De resto... meus amigos, as coisas, de uma certa maneira, pela perspectiva humana e de convívio com terceiros, piorou muito mais!
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Aquela senhora, ao querer dizer que a vida agora é fácil (compreendo-a) porque viveu-a sobe um grande esforço físico, termina a dizer que chegou aos 65 anos com saúde. Estando eu na metade desse número, quem me garante que chego lá e vou dizer o mesmo?
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Conheço cada vez mais pessoas de todas as idades, com problemas de stress que resultam também em problemas de saúde. A vida está cheia de problemas e discussões no trabalho, em casa... os miúdos hoje em dia continuam a "pedinchar" o afecto dos pais, que têm muito pouco tempo para si mesmos e, por isso, muita pouca paciência para as crianças. E estas, como não convivem na rua com outras da sua idade, nem andam a trabalhar no campo como antigamente, o que lhes resta? A solidão.
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Sabem? Quando chegar aos 65 anos, posso sentar-me todos os dias num banco de uma camioneta que nunca irá aparecer uma senhora da minha idade, originária da minha cidade, e vamos conversar sobre os inúmeros conhecidos que temos em comum. As gerações posteriores desfizeram mais os laços - ou não os ataram.
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Aos 65 anos vou sentar-me numa camioneta a pensar com os meus botões que, sem ser com a rapariga da caixa do supermercado, não falo com ninguém há uma semana. E vou sentar-me ali, achando que sou invisível, sentindo-me sozinha e sem saúde...

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Deixe o carro na garagem e vá de transportes

Hoje conheci uma pessoa que aderiu a esta «propaganda».
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Estava eu a comprar o passe da Carris (descobri um facto curioso, que fica para depois) e chega-se um indivíduo a perguntar como funcionam os autocarros. Queria saber como comprar um bilhete. Já não andava de transportes públicos há anos. Sabia que existiam uns cartões recarregáveis, mas não estava bem por dentro da questão e queria saber o preço. Contou ele que tinha decidido estacionar o carro e ir de metro para o trabalho. Mas que já se tinha arrependido!
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É que teve o azar de deparar com uma situação inesperada e a estação foi evacuada. A alternativa passou então para o transporte à superfície, o autocarro. Áquela hora da manhã, o único local que vende passes e bilhetes fica a uns bons metros no cimo de uma subida íngreme. Só aí já se perdem uns bons minutos. Depois teria de apanhar um ou mais que um autocarro. Mais tempo... para cúmulo, o dinheiro que gastou no bilhete de metro não pode ser investido na viagem do autocarro. Tinha de comprar outro idêntico, carregá-lo com viagens e pagar os 0.50 cêntimos extra...
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O rapaz já estava a dizer (e com razão) que andar de transportes públicos é mais caro que andar de carro.
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Agora digam lá: depois desta experiência, nunca mais esta pessoa vai deixar o carro em casa. É assim que se vai mudar a situação e colocar as pessoas a andar de transportes?
Repulsa-me bastante quando percebo que a sociedade rege o seu comportamento de acordo com as aparências. Hoje logo pela manhã, veio-me esta sensação de náuseas e repulsa, um autêntico enjôo, por causa de um colega de trabalho que se vende (olá!) por um valor bem acima do que tem, e julga os outros pela aparência que transmitem. essoas que aparentam ser mais do que são, pessoas qRepugna-me que julgem as competências de uma pessoa pela aparência

sábado, 9 de maio de 2009

Coimas

Tenho lido nos jornais que o governo pretende elaborar leis que visam penalizar aqueles que se deslocam na capital de automóvel, sem que este vá com mais de uma pessoa.
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Não posso concordar. Como pessoa que não tem veículo próprio e vive na cidade de Lisboa, deslocando-se de sítio para sítio usando os autocarros da Carris, sei bem o que é ter o trânsito a atrapalhar o andamento do bus e sei também o que é engolir toda a poluição atmosférica libertada pelos veículos em movimento, do tanto que aguardo nas paragens à beira da estrada e do tanto que caminho por passeios e estradas sem passeios, por onde circulam as viaturas poluidoras.
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Nem por isso concordo que se sacione desta maneira as pessoas. Não me parece correcto e até me parece um tanto ridículo. Além disso, fico com a nítida impressão de que daqui só pode resultar um desenrolar de injustiças. Outra coisa que me incomoda é que estas medidas firmes estejam a ser consideradas não porque o trânsito é uma fonte extraordinária de poluição, nem tão pouco vão melhorar as infra-estruturas da rede pública de transportes, para que uma pessoa com automóvel escolha deixá-lo em casa. Esta medida só está a ser estudada, porque existem muitos carros.
O verdadeiro flagelo do trânsito, é a poluição. Esta sim, foi alvo de alguma consideração ao longo dos anos pelos governantes, mas numa dimensão muito "mixa". Não se notam as diferenças. Lisboa tem fog visível a olho nu. Os meus pulmões há muito que o sabem. Não se surpreenderiam se alguma entidade credível viesse a público dizer que em determinadas zonas da cidade não é recomendável respirar o ar, devido à atmosfera estar com veneno tóxico. Não é de hoje que os pulmões se queixam. Nem o hábito que adquiri de prender a respiração e inspirar o menor número de vezes possível parece lhes ter resguardado muito a saúde. Claro que a quantidade de veículos também atrapalha. As deslocações de lugar A para lugar B são estraordináriamente demoradas. Mas se esse fosse o preço a pagar e em troca nos dessem veículos não poluidores a 100%, eu aderia. Você não?
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Que bom seria, se os veículos «cuspissem» aroma a rosas! Tanto me delicia, o perfume das flores...
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Mas ao invés de ser este o principal problema na lista de prioridades, é o segundo. E punir pessoas só por não andarem com outras dentro do carro, é ridículo. Sabem o que vai acabar por acontecer? As pessoas vão encomendar por catálogo aqueles "bonecos de companhia" insufláveis que existem nos EUA, que simulam a presença de mais do que uma pessoa no veículo, para dissuadir possíveis criminosos em situações particulares.
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Imaginem-se as injustiças que uma tal medida pode originar. Vamos supor que, a pesar dos 25 anos contínuos de experiência que tenho de uso dos autocarros da Carris, amanhã ganhava o Euromilhões. Após pagar ao Estado a sua parcela da fortuna que me coube, decido comprar um carro. Ora, não tenho família, nem vizinhos que trabalhem no mesmo sítio que eu. Vou no meu carro sozinha e levo uma multa? Ou pago mais impostos que outros? E todos aqueles 25 anos em que andei aos empurrões e pisadelas nos transportes públicos? Não contam? .
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Quero com isto dizer que fiz a minha parte e se, na "velhice" conseguir ser um pouco "egoísta", deixem-me ser, pois já sacrifiquei muito e gostaria de experimentar um pouco de conforto... inventem carros 100% ecológicos que se desloquem há velocidade máxima de 80 km à hora. Isso também impediria outros dissabores relaccionados com os excessos de velocidade e mortes na estrada. Mas sabem? No fundo, é a própria "indústria" que enriquece à custa do ambiente, que depois vem obrigar e a punir as pessoas, que não passam de peões num jogo de interesses económicos.
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